Esses dias li o primeiro artigo da Alexandra Forbes, ao retornar a escrever na Folha. Ela mudou! Co-fundadora do projeto social Refeittorio Gastronomotiva, ela é uma das jornalistas em gastronomia que mais acompanho e curto o trabalho. Após aproximadamente 10 meses sem escrever na Folha, Ale volta repaginada.
O título do seu primeiro artigo de retorno é “Quem ainda aguenta papo de alta gastronomia?” . Já imaginam a mudança. Antes sua coluna se chamava “Gourmet”. Hoje ela não vê mais sentido e traz uma mudança em seu discurso. Os estrelados não são mais o foco. “Menos alta gastronomia. Mais comida de verdade, mais conversa franca e descomplicada sobre vinhos”, afirma a jornalista em um dos trechos do artigo.
Ao ler o seu desabafo de mudança parecia até que ela estava do meu lado em uma conversa de café de tamanha sinceridade. Oh God, que privilégio seria o meu de chegar a esse encontrinho trivial. “Para que lutar para comer no Noma? Restaurantes estrelados nem sempre trazem felicidade”, neste momento já me coloquei na quinta dimensão e me senti no ChicaChicaBom, em Lisboa, com ela a tomar uns copos de Ramilo.
Esses dias…
Me perguntaram se eu atuava junto a alta gastronomia. Bem… Então, às vezes é difícil responder a certas perguntas sem desmerecer o outro lado. Parece que há um dualismo pairando e lá vem também a preocupação da má interpretação, mas pensei e minha resposta foi a mais sincera e longa possível falando da linha editorial do RG, do restaurante Central, do Virgílio, em Lima, ao litoral Norte baiano e finalizando com o Jefferson Rueda, como case do que acredito: sustentabilidade real aplicada na prática.
No Sangue na Guelra do ano passado, evento português que vetoriza a revolução na gastronomia, a Janaína Rueda (esposa do Jefferson) fechou com chave de diamante ao apresentar ao lado de Jefferson a concreta revolução que têm feito, no centro de São Paulo, e o papel ativista que desempenham. Eles usaram um termo que até hoje não esqueço: “gentrificar”, que significa trazer pessoas e manter as que já existiam no bairro e fazer todos interajam.
Vale lembrar que a Casa do Porco levou, no ano passado, como melhor restaurante do Brasil, segundo a lista dos 50 melhores da América Latina, da famosa premiação “50 Best”, e ficou em sexto lugar na colocação do ranking latino. Não que eu me importe com prêmios, mas eles refletem muitas questões e alguns paradoxos que estão mudando nos últimos anos.
A Casa do Porco foi no caminho oposto da correnteza. Não abriu em bairro nobre, pelo contrário, foi no centro de São Paulo, lugar que muita gente torcia o nariz. Serviu um menu degustação de alta gastronomia, ultra-valorizou o porco e passou a utilizar todas as suas partes, ao longo do menu. Vale ressaltar que esta era ou ainda é uma proteína subestimada no Brasil – o oposto de Portugal. Para fechar, o menu era acessível comparado aos restaurantes premiados ou com aquele nível de qualidade técnica, apresentação e sabor. Em 2017, minha conta foi aproximadamente R$120 com bebida inclusa.
As melhores experiências, na minha opinião, estão naqueles lugares que existem um propósito definido com respeito genuíno ao alimento. Não importa se é aplicado técnica ancestral, francesa ou empírica, nem tão pouco sobre os prêmios, estrelas ou quadros na parede, esse não é foco. Parafraseando a Ale: alta gastronomia nem sempre traz felicidade. Ainda acrescento: alta gastronomia nem sempre está conectada com as pessoas e o planeta. Por vezes ou quase nunca é sustentável, mas aí já é assunto que rende outro artigo. Até a próxima 😉
Ahhhhhh! Aproveite para ler o meu último artigo também.
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