A história de Itacaré está ligada ao cacau, o ouro da Bahia. O segundo dia de viagem, foi uma imersão deliciosa nos sabores da fruta, desde a fazenda Villa Rosa a um bate papo com um pequeno produtor de chocolate a base de cacau cru e cerveja que leva casca da amêndoa.
Confira o primeiro dia da trip gourmet, clique aqui.
O primeiro ponto de parada deste sábado (15) foi a fazenda Villa Rosa. Uma propriedade secular localizado a 20 quilômetros de Itacaré à margem do Rio de Contas. O local recebe turistas e lá eles têm a oportunidade de realizarem um tour temático que leva aproximadamente uma hora.
Entre 9h e 17h, a fazenda recebe grupo de pessoas para a visita guiada onde os turistas conhecem a plantação de cacau, que é realizada dentro do sistema cabruca (a sombra de outras árvores), também visitam o processo de colheita, a fábrica de chocolate (com direito a degustação), além dos lindos jardins da propriedade, e quem quiser pode se arriscar a andar de caiaque pela represa.
Os visitantes também passeiam pelo casarão da antiga sede da fazenda, que foi construída em 1930. A última parada é no restaurante Villa Rosa, onde os turistas podem aproveitar para relaxar, brindar com um shot de mel de cacau (R$4) e comer no local, que serve desde frango ensopado (R$25, individual) a moqueca de camarão e peixe pratos para duas pessoas (R$110).
O tour pela pela fazenda acontece todos os dias e o valor por pessoa fica por R$50 (inteira) ou R$85 com transporte incluso (partindo e Itacaré). Antes de ir embora vale passar pela lojinha e levar algumas lembranças saborosas para degustar mais tarde ou como presente de viagem.
Almoço com cacau
Após a visita a fazenda, fomos almoçar no Café com Cacau que fica localizado à margem da BA-001 próximo de Itacaré. Lá, a querida Marly nos esperava com um banquete pronto. Entre as opções de pratos que ela preparou havia salada tropical de folhas com frutas e um molho de maracujá; ensopado de galinha; carne do sol com queijo coalho, bobó de camarão, feijão tropeiro, suflê de couve-flor e feijoada. A maior parte dos ingredientes foram provenientes da agricultura familiar.
Em paralelo…
Acontecia um momento único e incrível no assentamento Pancada Grande. Os agricultores familiares receberam a visita de chefs de Salvador para almoçar,como Fabricio Lemos, Lisiane Arouca (ambos do resultante Origem) e Caco Marinho (restaurante DOC), a Reveca Tapie, facilitadora do Slow Food Nordeste e representantes políticos.
Os convidados provaram desde um mix de saladas a galinha caipira, todos preparados a partir da produção rural. Como retribuição pela recepção os chefs Caco e Fabrício cozinharam para as famílias do assentamento. Eles criaram pratos a partir dos ingredientes locais.
Caco preparou uma tortilha de cará moela, ou como eles chamam por lá “inhame fígado”, uma espécie de batata aérea que dá em rama. Já o Fabrício fez uma moqueca de vegetais verdes a base de mamão verde e um ceviche de banana da terra, onde usou dois tipos limões de acidez delicada: cravo e o balão, sendo que o último foi uma descoberta local do chef do Origem.
Todos os passos das preparações foram compartilhadas com os agricultores, uma forma deles enxergarem a versatilidade dos seus próprios produtos. Para Caco, o desafio foi grande pois “as mulheres do assentamento cozinharam divinamente bem. A missão era preparar um prato saboroso, que todos gostassem e fácil de fazer para eles replicar no cotidiano.”.
A descoberta da noite
Chocolate de cacau cru, já provou? Conhece? Até sábado eu não conhecia. A partir da Reveca Tapie, fui apresentada ao francês Mathieu Laurent Hourcade que produz chocolate orgânico e artesanal, além de produtos a partir do fruto sem a realização da tradicional torra, como nibs, cerveja e “vinho” (sendo o último através da cooperativa Cabruca).
Durante a noite, o Mathieu abriu a sua produção especialmente para mim e Reveca para conhecermos o seu trabalho. O espaço, que fica localizado na Passarela da Vila, também abriga uma loja e café que funciona de dezembro a fevereiro. O bate papo a cada momento ficava mais interessante ao descobrir curiosidades sobre a produção na Santa Tereza.
Localizada dentro de uma área de preservação ambiental, a fazenda conta com 34 hectares, sendo quatro destinados ao plantio de cacau (Pará, Parazinho, Forasteiro e Catongo). Eles trabalham com agricultura biodinâmica e sistema cabruca. Após a colheita o cacau passa por um processo de fermentação, como em outras produções. O que difere é como esta etapa é realizada.
O Mathieu controla a temperatura, durante o processo de fermentação para não atingir mais de 50 graus. Após, ele lava os frutos e mantém por radiação solar lenta e baixa temperatura e, então, leva as amêndoas para a fábrica para produzir nibs, barras 70% cacau cruas, barras de cacau gourmet (com processo de torra), trufas e outras sobremesas e derivados de cacau.
Ao provar a barra de chocolate de cacau cru, a primeira lembrança foi do cheiro da fermentação da semente, quando ela fica nas caixas de madeira. O sabor é frutado e na primeira mordida a reação é de amor e repúdio ao gosto, que a princípio é novo. Ao consumir a barra por inteira o gosto foi se tornando familiar e agradável.
Segundo Mathieu, o objetivo de produzir a amêndoa do cacau sem torrar é para trazer para consumo um chocolate com um potência de sabor ainda maior e para preservar os nutrientes do fruto, que são perdidos quando são expostos a altas temperaturas no forno.
O jantar da noite…
Foi no restaurante Manga Rosa, que fica localizado na Pituba. A casa está participando do Festival Sabores de Itacaré com o prato arroz de frutos do mar servido na folha de couve, que acompanha um creme de inhame ao toque de gengibre. O prato está R$29,90 com gostinho de quero mais na porção de arroz.