Na minha primeira parte da série “Doces e Sobremesas Afetivas” (saiba mais) em parceria com a Gabi, editora do Repórter Gourmet, está regada à reencontros memoráveis afetivos: caminhei pelo Centro de Salvador, entre Padarias e Confeitarias antigas, e claro, pelas ruas de minha cidade que ainda contam muitas histórias. Me lembrei de parte de minha infância e o quanto bateu saudade…
Localizada na rua Forte de São Pedro, desde 1952, a Padaria Favorita, é conhecida pelo pãozinho francês, suas Broas de Milho sempre fresquinhas e o Bolo da Índia, que desde que me entendo por gente, só encontro lá. Feito com especiarias na massa, e um creme especial feito na casa e que Seu Fernando – gerente há tanto tempo que ele nem lembra quanto – não quis compartilhar.
“Minha filha, é segredo de Estado, mas prove aí pra você ver.”.
Realmente, uma preciosidade que deve-se guardar à sete chaves por mais 66 anos. Um bolo super aromático, fofinho e com aquela umidade ímpar. Ideal para aquele lanchinho da tarde com cafezinho. E quando perguntei se ele não ia provar comigo:
“Provo todo dia, antes de autorizar que desça pra loja. Provo tudo todo dia e se não tiver bom, faz de novo.”.
Saindo da Favorita no Campo Grande, peguei alí a Av. Sete de Setembro, sentido o Relógio de São Pedro, porque logo em frente desde 1975, a melhor Torta de Tapioca da capital baiana, ainda pode ser saboreada e com muito gosto.
A Savoy é uma lanchonete, e hoje também é um restaurante, que prepara do mesmo jeitinho e com mesmo sabor há 43 anos a torta de tapioca: bem molhadinha, com textura de um pudim, amanteigado e com um capricho só de recheio e cobertura de doce de leite e ameixas decorando. E tem história também pra contar.
Os pais de uma amiga minha, começaram o namoro dividindo uma fatia dessa torta. O Quando ele à pediu em namoro, e lá se vão 32 anos juntos, hoje casados e com os dois filhos super bem criados. E para celebrar algum momento importante, a famosa Torta da Savoy sempre está presente.
Nessa caminhada contamos com os relatos de figuras pertencentes à este movimento na busca de imprimir todo seu lado afetivo na culinária ancestral e familiar, e que compartilham em seus pratos e respectivos menus algumas lembranças do tempo em que ficavam à beira do fogão de suas mães, ou que folheavam os caderninhos de suas avós, tias e até primas.
Sonho é um doce quitute que tem uma memória afetiva muito forte, me lembra abraço fofo apertadinho de vó, com aquele cheirinho de vó. E foi pra matar essa saudade que fui atrás dos dois sonhos mais antigos da cidade: o da Padaria e Mercadinho Paris – na Ladeira da Praça, ali na Barroquinha que é muito, mas muito antigo, com apenas seu único sabor desde então: Goiabada.
E o fofíssimo, macio e mega Sonho, super recheado da Panificadora Bola Verde no Dois de Julho, mais especificamente próximo ao Melhor Malassado da região – Caxixi. O sonho do Bola Verde faz sucesso há 65 anos, do mesmo jeitinho. Com massa leve e que derrete na boca, é a tradução em doçura muito afeto.
Voltando para Av. Sete: as doçuras afetivas permanecem. E me fez lembrar da minha infância, quando morava na Rua do Tororó, que saia caminhando com meu vô pelas ruas de lá: Bala de Vidro – com recheio de côco e cobertura de açúcar; Alfeles – aquele docinho puxa feito de melaço de cana e um toque bem sutil de gengibre; e não poderia esquecer do Quebra Queixo de coco, coco com amendoim e muitos outros sabores, vendidos em quadradinhos enroladinhos num papel manteiga, ali na beira da rua, com o senhorzinho ou a senhoria simples, mas com um sorriso largo no rosto.
É… ainda sou do tempo que pirulito de açúcar tinha cor de âmbar e lembrava um guarda chuva fechadinho, enrolado no papelzinho e enfiado numa tábua com o tio à assobiar.
Texto: Lilian Brasileiro, blogger Só Vim Pela Sobremesa.