Cuidados com a colheita e pós-colheita, incentivo ao trabalho comunitário, valorização tanto das famílias que trabalham na produção, quanto dos saberes populares e tradicionais, foram alguns aspectos ressaltados, nesta quarta-feira (09), durante o primeiro dia da edição da Expedição Gastronômica Cacau Cabruca – Da Roça para a Mesa, que constou da visita do grupo à propriedade de uma das produtoras de Orgânicos do Cacau, na Vila Tibina, no município de Ilhéus, Território de Identidade Litoral Sul.
A Expedição Gastronômica é realizada pelo Instituto Ori, em parceria com o Governo do Estado, por meio do Bahia Produtiva, projeto executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa pública vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), e a Aliança dos Cozinheiros Slow Food, uma rede que reúne cozinheiros de todo o mundo e que preza pela comida boa, limpa e justa. O Instituto Ori foi fundado por chefs de cozinha da Bahia e o Slow Food Nordeste, com a finalidade de promover visitas de chefs a produtores da agricultura familiar.
De acordo com o chef de cozinha, Caco Marinho, nas expedições, é possível ter contato com os agricultores e agricultoras familiares e entender melhor os processos de produção: “Queremos que esses produtos estejam nas prateleiras dos supermercados da capital. Ensinamos as pessoas a utilizarem esses produtos e já estamos fazendo isso, trazendo-os para os nossos cardápios. É muito gratificante perceber que podemos melhorar, de alguma forma, a vida desses agricultores familiares. O nosso papel é contar essa história para que as pessoas compreendam e valorizem esses produtos”.
Marinho destacou que muitas pessoas não conheciam o licuri, e, depois da expedição realizada na comunidade produtora, durante o Festival do Licuri, em 2017, os chefs tem ido a eventos e divulgado o licuri, ensinando a cozinhar com o produto, o que contribuiu para qualificar a comercialização: “Hoje nós recebemos o licuri congelado e a gente mesmo torra e consegue ofertar para o cliente final um produto com uma qualidade de dar orgulho, e temos feito isso também com o umbu. Nessa expedição estamos conhecendo o universo do cacau cabruca, que é agroflorestal, com o conceito do sintrópico – que produz alimentos e recupera a natureza ao mesmo tempo, com responsabilidade ambiental, produzindo alimentos nutritivos, saudáveis e sem agrotóxicos”.
Jeanne Sommer, chinesa, naturalizada brasileira, que desde 2004 reside na Bahia e produz o cacau orgânico, ressaltou que a produção orgânica é importante porque preserva a a Mata Atlântica e a área em que se vive, de agrotóxicos: “A minha área já foi desmatada e tivemos que recompor com árvores frutíferas e outras, como a seringueira”. Ela afirmou ainda que : a produção orgânica é importante também para que a gente tenha o corpo livre de toxinas. Não somente é bom para mim, mas para outras pessoas que irão consumir o meu produto”.
Na visita à propriedade Amigos do Parque Estadual da Serra do Conduru (Pesc), os participantes tiveram a oportunidade de conhecer histórias de quatro produtoras de chocolate orgânico, o processo de produção desde a colheita, despolpamento, fermentação e secagem, à torrefação, e também a produção do chocolate cru, que conserva as enzimas, minerais, vitaminas e antioxidantes. O cacau é produzido no sistema cabruca, em que o cacaueiro é sombreado por árvores nativas da Mata Atlântica e outras frutíferas. Foram apresentados também os desafios para a realização dessa produção, que recebe certificações, em grupo, por meio da Cooperativa Cabruca e da Rede Povos da Mata.
Slow Food
“O objetivo do Slow Food nessas expedições é, além de aproximar os chefs de cozinha dos produtores, favorecer a compra direta, procurando a inserção dos produtos da agricultura familiar nos cardápios desses chefs, proporcionando novos sabores para os clientes dos restaurantes, observou a facilitadora Slow Food Nordeste, Revecca Tapie
Programação
Durante a expedição, que acontece até a próxima sexta-feira (11), o grupo
irá visitar comunidades produtoras de cacau e a fábrica Bahia Cacau – primeira de cacau da Agricultura familiar da Bahia, no município de Ibicaraí. Em Ibirapitanga, irão conhecer o processamento artesanal do Nibs – matéria prima do chocolate.